17.10.10

Nesse meio tempo em que o sol ainda percorre boa parte do meu rosto, me abarroto com sua lembrança me acertando em cheio como um amor debaixo das vistas. A tarde chega. Tarde em que este sol permanece iluminando a cidade, mesmo querendo ir adormecer. Como é cuidadoso o modo como ele se despede: Devagar, em tons líricos, levando aos poucos, traços de um dia que ainda me vejo em saudade. Daqui debaixo continuo a pedir pra o sol ficar, insisto nessa sisma de que ele não deva desaparecer... É que eu queria voltar e correr por aquele mesmo caminho marcado por nossos rastros. Mas neste dia você só pôde me levar até a segunda ruazinha à esquerda das árvores extensas, que habitam na moradia dos corpos. Vejo a cidade rumorosa. Nesse ocaso mais denso, meus olhos não mais alcançam as pegadas do seu chinelo. O meu caminho parece ficar cada vez mais afastado. Chego a me encontrar em outros lados, caminhando em lugares onde o cenário não me cabe dentro. Com olhos medrosos, eu suspiro entre numerosos ecos zangadiços de risadas roucas e grotescas que me anunciam suspeita ameaça. Os letreiros já ligados substituem a luz do dia que já vai morrendo e todas as janelas fechadas parecem se recuar de mim. No propagar da melodia melancólica dos pingos da chuva, eu começo a inundar o sertão dos meus olhos, nessa vontade graúda de lhe abraçar... Meus passos estão estritamente abandonados e, tanto dentro quanto fora, a noite se acomoda. Às zero horas de um dia pálido e até então falido, olhava agora os dois lados da rua em um deserto de luz, me arriscando a atravessar multidões de carros. Procuro seu cuidado pra me proteger. Estendo meu olhar por uma extensão infinda de fumaça e me deparo com um risco de lua quase que inexistente me apontando um caminhozinho meio semelhante ao que eu, já casada e descontente, buscava encontrar o seu amparo. O seu abraço. Lamentava por já estar cansada e com receio em continuar. Então sentei sobre a calçada cuspida de ensejos... Entrelaçando meus braços para aquecer o corpo, percebi um cheiro afetuoso que parecia recender como um adorno afável. Ficava extensa, com uma vivacidade mais ressuscitada. Arranquei-me em um peso de cuidado, soltando os cabelos pra encontrar o que, desde antes do dia amanhecer, eu estive buscando. Espera! Me dizia particularmente os meu múltiplos e infatigáveis sentimentos. E mesmo sem esperança, antes mesmo que eu fosse longe, me deparei com um sorriso alvo. Não podia ser de outra pessoa, senão de você. Um sorriso gigante, largo, amplo... Você estava tão junto a mim. Tão perto. Já há alguns minutos. Não contive a emoção. Te toquei numa gula insaciável, como se me carecesse todas as coisas. Os meus olhos estatalados e intrigados questionavam quietinhos como todas aquelas coisas podiam ter acontecido. Todo o medo, todo o sufoco estavam emudecidos. E então só venciam os meus suspiros ofegantes. Com pouco ar, carecendo a pose e o equilíbrio. Sem conseguir dizer uma palavra sequer, pranteava o meu pensamento que ousava em sussurrar tudo de uma única vez. De repente me apanhei do chão e lhe abrangi inteirinho em minhas mãos. Tão pequeno e tão sereno (...) escorando meu rosto na sua boca, sentia todas as palavras vindo desde seu inalcançável íntimo, até percorrer a ponta dos lábios tão macios. No deslizar dos meus dedos eu conseguia guardar pra mim, toda sua imagem moldada por traços maduros e delicados. Tive um colo dengoso que eu parecia estar perto de algodões enternecidos. Víamo-nos em um caloroso momento de alegria, entontecidos, com vontades de correr e gritar e brincar e falsear e permear e sorrir. Deitávamos embriagados de entusiasmo, quase ou completamente insanos, loucos, alucinados e com múltiplas vontades em realce. As pessoas olhavam estranhamente e riam, zombavam e desacreditavam. De qualquer forma até o meio fio já sentia inveja e estava perfumado com toda aquela alacridade.
E a noite dormia...
E o sonho vigorava
E os dias nasciam e morriam
Eu então te encontrava e sempre me perdia...
Me deparando em conclusões exclusivas e momentaneamente eternas:
Já era tarde. E agora também é.
Agora é tarde.Tarde demais pra não te amar...

7.7.10


Outro dia me apaixonei por uma janela velha, mas muito velha.
Lhe faltavam pedaços...
Não deixei de me apaixonar por conta disso.

13.5.10

Óia! é meu benzin alí, ói.

Só vejo é só ela

Se aprochegue meu xodó,

pr’eu aqui te oiá e dá um dengo

Num abusa da sodade q’eu tô

Faz esse alvoroço não, ô!

Nóis num tem que se arretá

Esse troço de ficá bicado, é muganga!

Tu sabe q’eu num sô cabra cabuloso

É de caju em caju que dô uns gole

E foi só um goró muidêro

Foi goró de noite de lua sem teu chêro

Aquele chêro danado de bom,

chêro seu no pescoço meu

É amô que dói e escorre ardendo os ói

Ispia, eu que num choro, to chorando.

Já viu isso?

Me óia aqui, neguinha

Já to amostrado de novo, assunta!

Num manga assim do home que te ama

te ama d'um jeito tão lesado,

mermo assim: meio troncho e mal’acabado

Num me dá esse susto

Diz que é migué, anda

Tô todo aperriado, amoado

E largado em terra quente de queimá os pé

Minhas blusa num tem mais pitoco

Minhas calça ta c'uns remendo frouxo

que nem eu, sem ter pertin de mim, ocê

Vem muié, to cá te esperano,

jurano num tomá de novo

Agora só vô tomá um café bem forte

Pra dá sustança na hora dos carinho

pra dibaxo do cangote

Ocê pensa que eu num me alembro

de quanto tu vinha pelas brecha

me encarinhano?

Ah, minha nega... Eu sinto é falta!

Vem cá, pra eu te apanhá no colo

E tu me sorrir esse surriso bem feito de manhã cedim

ô mulhé, ja que tamo por que num fiquemo?

Eu vô esperá.

Por que eu sei, benzim, que nesta hora cê aparece

E aí, bem antes da sua chegada

Eu já alumio com nossa morada

Por saber que daqui há pouquinho

Tem folia na calçada e felicidade dentro de casa.

28.3.10

Antes artes do que nunca...

__ e o medo? Ah... Se até a vida passa, o medo também acaba. Assim como eu, 'tão desprevinida e exata'
Lá vou, lá vou! Me aguardem sras. cênicas - "Eu vou, por que não?"
Nas minhas eras, em minha hora. Ora essa!

24.3.10

Sua ausência sabe me fazer sentir como naquela insistência dos dedos a procura de acordes dissonantes tão patéticos e primorosos...

14.3.10

entre esses papos beócios I.

__ Você me ama?
__ Abre os braços
__ vai me abraçar, é?
__ já estou te abraçando
__ é que você é tão pequenininho...
__ sou, minha pequena?
__ o que? lindo?
__ Não. Pequeno... Você não disse?
__ ah é!
(riso)
__ Boba!
__ namorado da boba, é o que?
__ pequeno uai
__ Não! Era pra você ter respondido: bobo
__ Ah, entendi.
__ Entendeu o que?
__ Pergunta de novo
__ namorado da boba, é o que?
__ É a primeira pergunta
__ (...) Se você me ama?
__ Eu te amo! Mesmo assim... Pequeno e bobo.

(suspiro)

12.3.10

prosa com o retrato
Se lembra quando você me agradava com aqueles acordes até inventados?
Mesmo assim eu sambava.
Um samba, hoje, sem graça...
Com toda essa melodia de saudade em harmonia de fim